De uma hora para outra o tema ‘Games em Pixel Arte’ ou ‘Games de 8 Bits’ ressurgiu no jornalismo de games internacional e repercutiu até mesmo no Brasil, discutindo a real importância do fenômeno para o mercado atual e sua relevância como propostas estética ou de design. Embora possa haver certa controvérsia nas opiniões em geral, acredite: seu joguinho de 8 Bits é quem garante o Mercado de Games AAA e você deveria se sentir muito satisfeito com isso. Veja o porquê.
Há cerca de 6 anos, escrevi um texto para o site GameCultura em que já ponderava sobre a importância do resgate dos games de 8 bits em uma época já dominada pelos polígonos dos onipresentes consoles Xbox e Playstation. O artigo “O Movimento Neo-Retrô nos Games”, de dezembro de 2008 (ainda no ar, tanto tempo depois!), justamente atentava para o fato de que “embora este fenômeno não seja exatamente novo, vem apresentando número crescente de lançamentos, a ponto de chamar a atenção da mídia especializada”, processo que não estagnou e continua a crescer, com uma oferta hoje esmagadora de projetos, fruto das facilidades encontradas ao longo desses anos, seja em relação às muitas ferramentas para criação de games disponíveis gratuitamente, seja pelas possibilidades de projetar seu trabalho ao mundo por meio das lojas online e app stores de todos os sistemas de telefonia e redes sociais.
Mas a pergunta que permanece é: por que esses projetos continuam a manter-se relevantes para o público atual? Recorro, novamente, a um trecho do velho texto, em que afirmo que “esta indústria começa a se retro-alimentar, aproveitando a longevidade e o poder de atração de ícones por ela mesma criados e que foram capazes de vencer o desgaste expositivo da mídia e a sede de novidades do mercado, tornando-se, em muitos casos, verdadeiros bens culturais de apelo crescente fora do circuito gamer”. É exatamente isso que faz com que uma criança que cresceu com games poligonais como Rayman ou Soul Calibur ainda se encante com coisas como Frogger, Pacman, Galaga ou Super Mario, entre tantos outros.
Esta semana, retomando o tema a partir de um artigo de Sam Byford, no site The Verge, o sempre competente Pedro Zambarda reafirma a sedução dos 8 bits, mas vai mais a fundo em sua análise, ao sugerir que “esse auge de jogos 2D rudimentares é o sinal mais claro da crise de mercado dos chamados “Triple A” […] melhor qualificados, criados por estúdios que investem pesado na indústria, [mas que] já não são mais sinônimo de destaque”, afirma.
Não é a toa, portanto, que Shuhei Yoshida, presidente da Sony Worldwide Studios, afirmou com todas as letras em 2013 que o mercado de games hardcore precisa da Nintendo para sobreviver. Embora o tema não esteja aparentemente relacionado, a essência de ambas as ideias é a mesma: ainda que a casa de Mario também tenha se rendido à fórmula inevitável do 3D na última década, toda a conceituação e estética de seus games ainda flertam com um certo ambiente de ingenuidade convidativa, que abre as portas do mercadão para players que, de outra forma não se interessariam por games. Em certa medida, é a mesma lógica aplicada aos games feitos em pixels, que apelam para potencial saudosismo vivido por alguns, os mais velhos, e apenas imaginado pelos jovens, que agora contam com essa escola do design do passado, acrescidos das dinâmicas e jogabilidade próprias da atualidade.
Em 2005, o site Lostgarden já atestava a qualidade dos games do tipo, definindo o ‘movimento’ neo-retrô como uma arte com “suas raízes nos gloriosos dias dos 8 bits, [que] pega emprestada a simplicidade dos jogos de tabuleiro de outrora e a mescla com a estética minimalista e brilhante do cultuado design [do] Ipod”.
Tudo somado, é hora de acreditar em seu projeto e ter certeza que, dentre tantas ofertas presentes nas App Stores, se seu trabalho é resultado não apenas de uma apropriação da arte em bits, mas de um design concebido com muita atenção e pesquisa, de inovação criativa nas mecânicas de jogabilidade, na elaboração de fases equilibradas e instigantes e em uma série de detalhes não menos importantes, você detém chances significativas de conquistar jogadores pagantes e tornar seu game bem sucedido comercial e artisticamente.
Yoshida e Zambarda têm razão: o mercado futuro de games depende integralmente das boas ideias advindas dos pequenos estúdios de games e da criatividade de designers que saibam romper com o enfadonho panorama de FPSs que assolam a criação de games da nova geração.
Imagem da Capa: 8BitMMO, game que faturou a competição de game independente de Seattle, em 2013
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