Nolan Bushnell concede Entrevista Inedita sobre Games e Mercado ao Play'n'Biz

Poucos profissionais no mundo ostentam o currículo de ganhos e perdas no mundo dos negócios e do entretenimento como Nolan Bushnell, empreendedor que acumulou fortunas e beirou a falência em vários momentos da vida profissional e eterno criador da Atari, a maior revolução do mercado de jogos de todos os tempos.

Em sua visita pelo Brasil em 2013, para uma rápida participação na Campus Party, Nolan Bushnell concedeu cinco minutos de exclusividade ao Play’n’Biz, para falar sobre negócios, a Atari, sua visão sobre os jogos atuais e outras opiniões. A conversa não teria acontecido sem a ajuda de Moacyr Alves, presidente da Acigames e um dos responsáveis pela área de jogos do evento, que ‘cavou’ esse tempo na agenda do mito, e a quem agradecemos o privilégio dessa oportunidade única.

Abaixo, segue a breve troca de ideias com o engenheiro de 70 anos, que esbanja simpatia e sabe rir da própria história, tirando sempre uma nova lição de vida.

Play’n’Biz – Os games mantiveram o foco no entretenimento familiar, que era o objetivo principal da Atari em seus primórdios?

Nolan Bushnell – Sem dúvida. Vale lembrar que os games conseguem alcançar o público de formas muito interessantes, e o bacana é que eles deixam as pessoas mais inteligentes ao mesmo tempo.

PnB – Acha que os designers da atualidade estão repetindo uma fórmula gasta ou há caminhos para criar jogos novos e interessantes?

NB – Os games têm muito a evoluir. O projeto Oculus [Rift] está trazendo uma nova realidade para a interação, que é simplesmente fantástico; os acelerômetros e os telefones móveis alcançaram toda uma nova dimensão com o gestual; o fato de os tablets estarem ficando mais baratos, o processo de gamificação na educação… está tudo acontecendo! É uma verdadeira tempestade! Nos próximos cinco anos, as crianças aprenderão 10 vezes mais rápido do que aprendem hoje na escola. Isso nos dará mais tempo para aprendermos a ser criativos na programação de videogames, no empreendedorismo… É o admirável mundo novo!

PnB – Você disse certa vez que, antes de produzir o arcade Pong, você teve a ideia de criar uma máquina com uma central de processamento a partir de um computador Data General Nova com quatro monitores simultâneos para batalhas em grupo no estilo de Spacewar!, uma ideia verdadeiramente revolucionária. Porque não funcionou?

NB – Teria sido realmente genial fazer esse equipamento, mas o problema era que os computadores eram muito lentos na época. O computador com o qual eu estava trabalhando custava quase US$ 4 mil, e tinha uma velocidade de 200 kiloheartz – não megaheartz – kiloheartz! Eram realmente muito vagarosos e impossíveis de fazer funcionar aquela ideia. (risos)

Bushnell CP13PnB – Se você não tivesse vendido a Atari à Warner, como acha que a empresa estaria hoje?

NB – É uma ótima pergunta. Não sei, mas acho que teria cometido uma série de outros erros. No entanto, acho que a Atari continuaria no ramo dos games e talvez não tanto prejudicada como aconteceu depois que a Warner começou a fazer aquela confusão. Havia algumas coisas que estávamos projetando, como tentar fazer os games serem jogados em rede. Quando eu olho para os projetos lá atrás, eu acho que a gente podia ter criado a internet 10 anos antes dela existir. Não seria legal se a Atari fosse a dona da internet? (risos)

PnB – Você investiria seu dinheiro hoje no mercado de consoles, se tivesse a oportunidade?

NB – Na verdade eu não acredito que essa nova geração de consoles seja importante. Se você olha para para o que é possível fazer com o PS3 e o Xbox 360, você se pergunta: ‘será que preciso que isso fique ainda melhor?’ Será que dá para ficar mais empolgante? Nesse momento estamos numa fronteira em que, para dobrar a resolução, você acaba aumentando o consumo de energia em 4 vezes, e eu não acho que estamos no ponto de seguir esse caminho. Acho que essa luta já passou.

PnB – Você lembra de algum caso curioso envolvendo sua experiência pessoal com simulação da realidade?

NB – Uma vez, ainda na época da Atari, após passar o dia com um jogo de simulação de carros, fui para a minha casa, nas montanhas. No carro, tive a sensação de que continuava dirigindo o simulador. De repente, me dei conta de que, se eu caísse morro abaixo, não poderia simplesmente apertar o botão de ‘novo jogo’. Foi uma estranhíssima mistura do mundo da simulação com a realidade. (risos)

PnB – Autores como Janet Murray e Roy Ascott têm falado sobre a imersão nos games e a possibilidade de viver uma ou mais identidades na realidade híbrida entre o virtual e o real. Os games podem oferecer essa vivência de fato?

NB – Quando você vai a um baile de fantasias você se diverte porque você abre mão da sua personalidade e ‘veste’ a personalidade da máscara. Os games operam da mesma forma e podem nos oferecer múltiplos avatares para nos dar essa sensação de liberdade. Um dos problemas é que, quando você não está preocupado com a sua reputação, você pode acabar sendo um pouco idiota e rude. Acho que a rede deve ser um playground seguro, mas você sabe, é sempre possível encontrar gente ruim andando a esmo por aí. A internet é apenas um microcosmo da nossa sociedade.

PnB – Como você resumiria a sua vida de empreendedor nessa área?

NB – Sempre procurei entender o que divertia as pessoas. Pong juntava a espontaneidade dos parques de diversão com o fascínio pelas máquinas eletrônicas; os arcades que fazíamos na Atari estavam sempre em ambientes festivos, cheios de gente jovem; o VCS levou a família para se divertir em frente à tv nas casas… Até Chuck E. Cheese era baseado na ideia de sair em família ou com os amigos para se divertir, comendo pizza. Quem não gosta de comer pizza enquanto joga com os amigos?

O cerimonial do evento já está ao redor com ar impaciente aguardando para levar o criador para o palco, para sua célebre apresentação.

Obrigado, Mestre Bushnell!

Nolan Bushnell CP13

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