Estudante paulistano cria sozinho o Pixly, ferramenta de Pixel Art para Android

Produzir Pixel Art é uma daquelas áreas de atuação que contam com poucos programas realmente eficientes, gratuitos e fáceis de usar, e esta dificuldade parece ainda maior quando se trata de sistemas para dispositivos móveis, como identificou o estudante Gustavo Maciel, de São Paulo. A solução encontrada pelo jovem, que está no curso de Ciências da Computação na universidade São Judas, foi criar, do zero, o Pixly, uma ferramenta customizada, que atendesse suas necessidades. Em conversa com o Play’n’Biz, no entanto, o jovem mostra-se surpreso com a boa receptividade do programa na comunidade de desenvolvedores.

Gustavo Maciel - Pixly“Desenvolvo jogos há algum tempo como um programador solitário e sempre havia a necessidade de criar meus próprios sprites“, disse, em uma troca de mensagens através da rede social. “Aprendi um pouco de pixel art e tinha a imensa vontade de poder continuar treinando e desenvolvendo meus jogos em momentos que não tinha meu computador por perto. Procurei por algum aplicativo de pixel art no Google Play e não encontrei nada realmente legal de se usar. Aí, estabeleci o objetivo de  criar um aplicativo pra suprir essa necessidade”, explica.

O início do projeto contou com pouco planejamento, como afirma o criador, que começou fazendo um protótipo pra editar texturas por meio do mouse, com o sistema OpenGL. “Depois fiz funcionar no OpenGLES… Daí pra frente foi só adicionar recursos e criar/melhorar a interface” conta, acrescentando que esbarrou em muitos entraves por conta das limitações dos dispositivos. “Nos mais modernos, como o Nexus4, o aplicativo rodava bem, mas em outros, mais baratos, ele simplesmente não abria, ou apresentava texturas totalmente brancas etc”. Esse problema exigiu muitos testes para identificar as compatibilidades entre os diversos sistemas e aparelhos, o que certamente tornou-se um grande aprendizado ao jovem para este e novos projetos com dispositivos móveis. “Usei o LibGDX, framework com o qual já era bem familiarizado, mas muita coisa foi feita diretamente com o OpenGLES“, explica, sobre a escolha do software, baseada na possibilidade de ser facilmente acessível ao OpenGL e apresentar portabilidade para sistemas diversos como Windows, Mac, Linux, iOS e Android. “Mas, até o momento, só tive oportunidade de liberar pra Android”, admite, expondo as dificuldades do trabalho solo.

Embora tenha pequena experiência profissional como programador, o desenvolvedor afirma que já criou diversos softwares e jogos, sendo este, de longe, seu projeto mais bem sucedido. “Creio que a fórmula que me levou a isso foi manter o aplicativo bem simples, com um foco prático, realista e ir incrementando aos poucos, sem dar passos maiores que as pernas. Dessa forma não fui pego nenhuma vez na situação de não ter ânimo suficiente para implementar algo que demoraria semanas até mostrar um bom resultado (creio que todo desenvolvedor já passou por isso)”, comenta, com modéstia.

Pixly Atual

Pixly – Interface atual do Programa

“O app nem sempre foi assim!”, entrega, bem humorado, ao ser consultado sobre a apresentação visual simples, limpa e eficiente do projeto. “A interface já foi muito mais ‘feia’, por assim dizer. Antes eu focava em ter algo funcional, mas depois de ter boa parte do aplicativo pronto, eu me foquei em melhorar a estética, que consegui adotando alguns padrões antes de fazer os ícones. Por exemplo, todos ícones compartilham uma só paleta definida de 16 cores (a paleta de Arne, para quem conhece) e também, defini parâmetros para o posicionamento etc.”

A criação despretensiosa do jovem obteve ótima receptividade junto à comunidade de desenvolvedores locais, em uma das recentes reuniões do Spin, em São Paulo. “No geral o pessoal tinha a mesma ideia que eu, [dizendo coisas como] ‘caramba, todos aplicativos de pixel art que baixei não prestavam, esse parece diferente!’, com um feedback muuuito bom. Me deram dicas de produção pro app, features que eu poderia adicionar, o que dava pra mudar… Foi muito valioso levar o projeto lá, o incentivo de ver alguém pessoalmente falar que tá gostando de algo que você fez é muito grande, e eu recomendo levarem seus projetos!”, declarou, empolgado com o retorno dos demais desenvolvedores independentes do jogos.

Mas Gustavo se adianta em admitir que, mesmo estando bem estável, ainda há passos a serem tomados no projeto. “Um exemplo claro é a ferramenta de seleção, que tem muito potencial tanto pro usuário, quanto para mim e, por enquanto só permite mover a seleção, algo que, com certeza, vai mudar em breve”, enfatiza, dando outras informações: “Tenho uma lista enorme de recursos pra serem adicionados no Pixly e estou sempre ouvindo quando alguém tem alguma ideia pra compartilhar”.

Pixly - Etapas de Interface do Programa

Pixly – Etapas de Interface do Programa

Como todo estudante empenhado, que já tem clareza no caminho a ser trilhado, Gustavo quer dedicar-se profissionalmente à área de games, ambiente em que tem encontrado grande dificuldade de acesso. “Tenho muita vontade de entrar para o mercado. Está difícil encontrar um estúdio brasileiro querendo contratar, e quando se acha, dificilmente é perto de onde você mora”, prossegue o estudante, que é morador da zona leste da capital paulista, região afastada e com poucas opções de empregos na área de tecnologia. “Já perdi oportunidades de trabalhar como desenvolvedor no Butantã por ser muito longe; seriam duas horas de viagem… A solução é fazer minhas próprias coisas enquanto não consigo uma vaga no mercado” Quando consultado sobre as projeções e expectativas para o desenvolvimento nacional de games, Gustavo apresenta um desânimo característico de quem não vê crescimento consistente no setor: “O que dá pra ver é que ainda é necessário muito incentivo para os estúdios. Ver estúdios brasileiros cheios de talento tendo que viver apenas com advergame é uma vergonha”, resume.

Fruto também do ambiente em que vive, Gustavo relembra as dificuldades vividas em sua trilha para o caminho profissional com programação e games: “Culturalmente falando, é estranho… Quando eu era criança, gostava de ficar no meu Super Nintendo, jogando, ou lendo gibis, e as outras crianças iam para a rua empinar pipas (não que eu nunca o tenha feito, mas tive outras prioridades)”, comenta. “O interessante é que muitos pais incentivam os filhos a não passarem muito tempo lendo (eu também enfrentei essa resistência), mas não creio que seja muito diferente do resto do Brasil. É uma barreira cultural imensa”, desabafa.

O Pixly já está disponível para aparelhos com sistema Android e pode ser adquirido gratuitamente através do endereço Goo.gl/M40lt0. Embora seja uma ferramenta útil, Gustavo não pretende transformá-la em uma forma retorno financeiro: “Não planejo monetizar o app, nem exibir anúncios. O máximo que planejo fazer é adicionar a possibilidade de doações. Se você realmente gosta do aplicativo, me dê uns trocados, ficarei agradecido! Se você não puder, tudo bem, você ainda pode usar o app”, oferece, generoso, o garoto que, despretensiosamente, já incluiu um grande projeto ao currículo profissional. O tempo certamente se encarregará de trazer os dividendos de sua qualificação e generosidade.

Os contatos para eventuais interessados em auxiliar no projeto ou angariar o promissor desenvolvedor como profissional para a área de programação, são o endereço eletrônico gustavo.knu@gmail.com e o Twitter Twitter.com/Gtoknu.

O Play’n’Biz parabeniza o jovem desenvolvedor pelo talento e pelo Pixly, seu projeto inicial, e sente-se honrado em poder disseminar aos interessados essa excelente ferramenta.

2 comentários a "Estudante paulistano cria sozinho o Pixly, ferramenta de Pixel Art para Android"

  1. Esse garoto é meu orgulho ♥♥

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