Se você tem mais de 20 anos e gosta de jogos de RPG, já deve ter jogado ou ouvido falar no RPGQuest, projeto da Editora Daemon, lançado em 2006, projeto que servia como introdução a este universo, com regras mais fáceis e personagens de miniatura em papel. O jogo deve retornar, em breve, agora por meio de investimento coletivo no Catarse, a partir de setembro. O Play’n’Biz conversou com o inquieto Marcelo Del Debbio, criador do jogo (e que acaba de conquistar a bem sucedida campanha para o jogo de cartas Pequenas Igrejas, Grandes Negócios), e conheceu as mudanças previstas para a nova edição do jogo. Confira na entrevista.
Play’n’Biz – O que era o RPGQuest?
Marcelo Del Debbio – O RPGQuest era uma mistura de RPG com boardgames. Ele foi idealizado como uma evolução do Heroquest, lançado na década de 90, mas com muito mais possibilidades e estratégias, algo que agradou tanto aos jogadores de RPG quanto aos veteranos de tabuleiro na época.
P’n’B – Porque o jogo ficou tanto tempo sem atualizações?
MD – O RPGQuest foi lançado em 2006 como parte de um projeto para difundir o RPG e os jogos de tabuleiro através de bancas de jornal. O projeto teve seis suplementos e vendeu cerca de 60 mil exemplares ao todo e só parou porque em 2008 uma grande distribuidora comprou a empresa que utilizávamos e mudou as regras da distribuição, o que tornou o projeto inviável (não apenas o RPGQuest, mas as revistas de RPG, mangás, Quadrinhos independentes e outras pequenas editoras que utilizavam o mesmo método de distribuição).
P’n’B – Você acredita que o jogo conserve ainda hoje alguma base da fãs? A quem se destina o projeto hoje?
MD – Sim, o RPGQuest ainda é muito querido. Ele conseguiu abranger três grupos distintos de público: os Professores, que utilizavam o RPG em sala de aula para ensinar matemática (vendemos muito nas Bienais do Livro de 2006 e 2008 e tivemos respostas muito positivas do uso do sistema matemático em salas de aula e em grupos paradidáticos); agradamos também os jogadores iniciantes, com um sistema simples, completo e eficiente, que permitia construir aventuras sem ter de se preocupar com regras complicadas e livros enormes… era o jogo ideal para quem estava começando. Outro grupo que ficou muito feliz foi o dos jogadores experientes, pois os valores das miniaturas de metal/plástico são muito caros e conseguir comprar 120-150 miniaturas de papel por R$ 30,00 sem dúvida era um grande atrativo para os veteranos.
Digo que hoje conseguiremos atingir um novo público: os jogadores de RPG que jogaram Heroquest na década de 90 e que hoje são pais e querem ensinar jogos de tabuleiro e RPGs para seus filhos.
P’n’B – Quais as melhorias previstas para a nova etapa? Do que consiste basicamente a campanha a ser lançada no Catarse?
MD – A campanha no Catarse será a reedição do primeiro RPGQuest, com melhorias. Por exemplo, terá os módulos de tabuleiro cartonados (nos mesmos padrões dos tabuleiros de WAR, HeroQuest e outros), as miniaturas virão pré-cortadas na faca (no original, os jogadores tinham de recortá-las), tokens para indicar vida, mana, magia, armadilhas, tesouros, etc… Fichas de Personagens mais aprimoradas, que permitem mais personagens, mais raças, mais classes, mais magias… a arte melhorada, a possibilidade de jogar sem Narrador (como um Boardgame Cooperativo), a possibilidade de se jogar como um Jogo de batalha de Exército, com construção de decks de monstros e Heróis, a possibilidade de expansões; do uso das cartas e fichas em conjunto com os jogos antigos… estamos bastante empolgados, a nova edição ficará com uma qualidade digna dos melhores eurogames.
P’n’B – Em sua opinião, porque as pessoas ainda se interessam por jogos tradicionais em uma época de cultura digital tão disseminada e jogos com gráficos hiper realistas?
MD – Pelo mesmo motivo que jogam jogos de tabuleiro. Pela interação com outras pessoas. O RPGQuest, como boardgame, desperta a imaginação e a confraternização pessoal entre o grupo, coisa que não é possível de se encontrar em jogos de computador.
P’n’B – Quais são as suas expectativas para a campanha de arrecadação coletiva? E em que benefícios está pensando para os potenciais apoiadores do projeto?
MD – Começaremos com os valores de reimpressão, caixa, tabuleiros e tudo o que tínhamos, e estabeleceremos metas como mais monstros, mais miniaturas, mais personagens, mais aventuras, mais magias e armadilhas conforme forem aumentando os apoios. Assim como no PIGN, esperamos que a colaboração dos jogadores faça com que todos ganhem muito mais do que apoiaram… por exemplo, no PIGN, quem pagou por 120 cartas acabou recebendo um jogo com 180 cartas… quem comprou a versão completa, de 240 cartas, acabou com 420 cartas. Esperamos que no RPGQuest a gente consiga dar muitos presentes para nossos apoiadores!
P’n’B – Você acredita que antigos fãs de RPGs tradicionais, hoje acima de 30 ou 40 anos, e já pais de família, podem retomar ao gênero?
MD – A principal razão para eu estar reeditando o jogo é que minha filha está com quase 5 anos e preciso de algum jogo muito legal para começar a jogar com ela. E o RPGQuest é o ideal para isso. Espero que, assim como eu, muitos outros pais também possam aproveitar este jogo para estimular a mente e a criatividade de seus filhos e filhas.
P’n’B – Os RPGs de mesa foram demonizados nos anos 90, sendo associados a ritos macabros, bruxarias e outras paranoias sociais. Essa visão mudou, você acredita?
MD – Sim. Há muito tempo que os religiosos fanáticos passaram a ser ridicularizados por esta postura medieval, e os jogos de RPG aparecem em diversas séries de cultura pop, como “Big Bang Theory”, por exemplo. Desequilibrados mentais sempre existirão, e para isso temos cartas especiais no PIGN para eles!
P’n’B – Como é viver da produção de jogos no Brasil? Quais os desafios ainda não vencidos para tornar essa indústria mais consistente e sólida no mercado?
MD – A Daemon já está no mercado de jogos desde 1998. As pessoas querem qualidade e preços justos. Não existe segredo cabalístico; apenas muita dedicação, escolher bons profissionais e muito trabalho duro. Faça seu trabalho bem feito, com seriedade e dedicação e o público reconhecerá isso.
A campanha de arrecadação coletiva está prevista para iniciar em setembro próximo. O Play’n’Biz acompanhará o andamento do projeto e divulgará as novidades. Outras informações e projetos da Daemon podem ser acessados diretamente no site da empresa, em Daemon.com.br.
Imagem de capa gentilmente cedida por um vendedor do jogo em Pelotas, Rio Grande do Sul, com oferta online neste link: Goo.gl/Ml6o19
Ótimo post, Parabéns!