Ainda que os recursos para desenvolver jogos pareçam a cada dia mais fáceis e intuitivos de manipular, o conhecimento técnico dos processos, a compreensão das dinâmicas que envolvem um projeto de jogo bem sucedido e, não menos importante, o histórico de criações que resultaram em produções de sucesso (bem como os equívocos da indústria ao longo dos anos), são elementos de grande diferencial na qualificação dos profissionais que atuarão nesse insurgente mercado nacional. Para atender a essa demanda e inspirar os interessados no Design de Games, a Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Carapicuíba, em São Paulo, oferece desde 2010 o curso de Tecnólogo em Jogos Digitais, que agora passa por uma reelaboração para uma ampliação de conteúdo e melhor aproveitamento das aulas ministradas. Como parte desse processo, Alvaro Gabrielle, Professor e Coordenador do Curso de Desenvolvimento de Jogos Digitais da Fatec Carapicuíba e Sócio e Diretor de Criação do estúdio Trixter, idealizou e oferece à comunidade um novo espaço para pesquisa, estudo e desenvolvimento de games, que conta com uma recém inaugurada exposição permanente de consoles, jogos e literatura técnica de produção de jogos, para estimular ainda mais os candidatos a Game Designer.
Para comentar sobre o ‘Museu de Games’ da Fatec e apresentar mais detalhes sobre o curso, o professor Alvaro conversou com o Play’n’Biz em uma tarde quente, no espaço do Centro de Pesquisas, Estudos e Desenvolvimento de Games, onde jovens animados estudavam Java em um canto e outro grupo visitava a exposição de aparelhos raros, como o Dactar II na valise 007 e o Virtual Boy, da Nintendo.
“[As plataformas antigas] mostram os caminhos – alguns certos e outros errados – que foram tomados no design de games”, comenta Alvaro apontando os consoles da exposição. “Conhecendo a história você sabe quem acertou, quem errou, o que pode ser reaproveitado, de onde vem as ideias… As pessoas às vezes falam ‘Kinect é uma coisa totalmente nova’, e não é, pois já existiam projetos semelhantes nos anos 70, a estereoscopia já existia no século XIX, o Oculus Rift etc. Mudando a tecnologia, foram aparecendo coisas novas baseadas em coisas já pensadas no passado”, acredita.
Para o professor, saber assimilar as boas referências do passado é importante para produzir trabalhos de grande inspiração. “As pessoas estão redescobrindo um pouco desse universo de coisas que estavam encostadas. À medida em que essa Cultura vai se difundindo, as pessoas começam a querer resgatar isso até mesmo como uma forma de estudo, conhecendo o que foi feito e suas possíveis adaptações para a atualidade, como um Gameboy, um Tetris, e ver como funciona hoje”, observa. “Há casos que vão acontecendo, que pegam referências, como é o caso de Flapbird, por exemplo, que resgatou uma referência do passado, adaptando-a a uma produção atual, jogável em tablets e celulares”.
A produção atual de jogos no Brasil, no entanto, embora conte com projetos bem avaliados e premiados, precisa passar por um processo de aprimoramento para fazer frente às criações internacionais, julga o mentor do centro de pesquisas. “Temos uma boa capacidade criativa no nosso mercado, mas é preciso ter pé no chão para pensar em futuro de games aqui no Brasil. Para chegar em um patamer de desenvolvimento para jogos Triple A, acho que veremos isso em um futuro um pouco mais distante… acho que uns 5 ou 6 anos para enveredarmos por essa produção de ponta”, comenta. “O Torem no PS4 é, certamente, uma porta legal que abriu agora, é um começo, algo de a gente jamais imaginou: um jogo brasileiro, com o apoio da Lei Rouanet, saindo para o PS4 em 2015. É um primeiro passo. No futuro próximo, estamos mais perto do mercado de mobiles e serious games, educação etc. Isso nos faz ter mais pé no chão: ganhar essa experiência no mobile e, depois, explodir no Triple A”, sugere.
Parte do problema com nossa atual indústria, no entanto, passa pelos problemas estruturais do país, com os elevados custos de produção e mão de obra, que encarecem e inviabilizam uma concorrência saudável com outras nações emergentes. “Para uma empresa, manter uma equipe grande e conseguir desenvolver é complicado com os impostos no país; e as leis trabalhistas tornam quase que impossível investir nesse ramo. Não dá nem para comparar com outros países… nas Filipinas sai mais barato desenvolver um jogo… e os ‘caras’ desenvolvem mais rápido e com melhor qualidade… até no Gabão…”, propõe, em tom de galhofa. “Como está hoje, aqui, sempre vai ser mais barato lá fora”, sentencia.
O objetivo no médio prazo é tornar a experiência uma referência no processo lúdico de aprendizado de games, sem perder a visão do conteúdo sólido da tecnologia e as perspectivas para a realização de projetos inovadores. “Esse espaço estará aberto a todos os públicos, não só para os alunos, com atendimento monitorado, a partir de um agendamento prévio, para vir, fazer pesquisas… tem os consoles à disposição, estamos montando uma Gameteca… até onde sei, é o primeiro espaço do gênero na América Latina, e temos a perspectiva de torná-lo um espaço ainda maior, para o pessoal aprender e empreender”.
A Fatec Carapicuíba fica na Av. Francisco Pignatari, 650, Vila Gustavo Correia, Carapicuíba/SP, ao lado da estação Carapicuíba da CPTM e do Terminal Rodoviário Municipal.
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