Invasão de 35 anos continua entre as maiores franquias do mercado

No final dos anos 70 a indústria de jogos eletrônicos começava a se firmar como potência no mercado de entretenimento, com lançamento frequente de novos arcades, ainda que os tipos de jogos se mostrassem repetitivos, seguindo a bem sucedida estrutura de jogos de corrida, de tiro e de rebatimento, como os inúmeros clones de Pong.

Na época já havia um grande número de empresas voltadas a esse mercado, mas quem ditava as regras era a toda-poderosa Atari, que desenvolvia e lançava os jogos mais inovadores do momento, a partir da criatividade do time de engenheiros comandados por Nolan Bushnell.

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O acervo de máquinas da Atari por si só já seria pauta para uma série de artigos, mas esse não é o foco do tema de hoje. A Taito, uma fabricante japonesa de máquinas de fliperama já atentava para o potencial dos arcades e ariscava o lançamento de algumas criações.

Em 1978, uma guinada revolucionária estava para acontecer vinda do Japão e criaria o próximo ícone universal da cultura contemporânea. O nome da produção? Space Invaders, da Taito.

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Os caminhos para a criação da primeira invasão maciça de aliens nos arcades são contados por Tomohiro Nishikado, o pai da ameaça galática, nessa entrevista:
“Quando eu comecei na indústria de games, a maioria deles vinha dos EUA. Então, decidi estudar esse assunto […] no intervalo de seis ou sete anos entre Pong e Space Invaders fiz todo tipo de vídeo games, aproximadamente dez no período […] enquanto eu desenvolvia várias idéias, Breakout foi lançado nos EUA e essa foi, provavelmente, a maior influência no meu design de Space Invaders”.

Em outra entrevista à Edge Online, Nishikado dá mais detalhes: “Não foi um trabalho fácil. Inicialmente, pensei em fazer tanques e aeroplanos como alvos, mas era tecnicamente muito difícil fazer os aeroplanos parecerem como se estivessem voando. O movimento humano seria mais fácil, mas senti que seria imoral atirar em seres humanos, mesmo que eles fossem os caras maus. Então, ouvi falar de um filme chamado ‘Star Wars’, lançado nos EUA e que viria para o Japão no ano seguinte. Assim, fui em frente com um jogo baseado no espaço, que tinha aliens espaciais como alvos”.

Na mesma entrevista, o criador prossegue: “O design dos aliens foi inspirado em ‘A Guerra dos Mundos’, de H. G. Wells. Na história, os aliens se assemelhavam a polvos. Desenhei uma imagem em bitmap baseado na ideia e então criei outros que se pareciam com criaturas do mar, como uma lula ou um siri”.

Curiosamente, algumas informações indicam que um sonho estranhíssimo de Nishikado teria sido outra fonte de inspiração, no qual aliens tomam o lugar de Papai Noel e invadem a Terra para roubar presentes. Não se sabe de onde surgiu tal informação, mas o próprio autor parece negar esta versão.

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O sucesso do arcade foi tão impressionante que começaram a escassear moedas de 100 ienes no Japão, impossíveis de serem repostas no mercado na mesma velocidade com que os jovens as depositavam nas máquinas. O assunto tornou-se notícia no mundo inteiro, dando a dimensão do fenômeno.

O arcade também tem o mérito de ter vencido o bloqueio de outros estabelecimentos comerciais, que até então não viam as máquinas de fliperama com bons olhos, e entendiam que a presença desses equipamentos poderia prejudicar sua imagem junto à clientela. O site japonês do jogo comenta em seu texto que “Space Invaders foi o primeiro game de arcade a se espalhar por pizzarias e sorveterias” (além de aeroportos, mercearias, lavanderias etc).

Diferentemente dos jogos da época, Space Invaders não tinha um tempo limite pré-determinado e destreza e estratégia do jogador eram fatores determinantes à capacidade de manter-se vivo durante a partida. O jogo também oferecia pela primeira vez na breve história dos games um placar com as pontuações mais elevadas, o que criava um frenético ambiente de competitividade, que levava os jovens a despender horas (literalmente) em frente às máquinas.

Esses recursos chamavam a atenção e se tornariam referências para o game design, como o próprio designer observa: “Eu introduzi uma série de elementos inovadores nos vídeo games. Primeiro, inimigos que respondiam aos seus movimentos e atacavam você. Até Space Invaders aparecer, a maioria dos games envolvia situações praticamente não-interativas onde o jogador atacava unilateralmente os alvos, dentro de um certo limite de tempo… Além disso, mesmo se o jogador tiver mais lasers de base à disposição o jogo termina quando os invasores alcançam o seu território. Acho que esses elementos adicionaram mais vibração ao jogo”, disse ao site CVG, em 2005.

Em valores, comenta-se que o jogo teria arrecadado mais de US$ 500 milhões em receita com as múltiplas plataformas, incluindo arcades, o consloe Atari 2600 e a Nintendo, valor que a empresa certamente jamais imaginou angariar. Embora tenha galgado uma posição gerencial na empresa, o designer não recebeu nenhum reconhecimento financeiro adicional pela criação, como conta Bill Kunkel do site The Game Doctor: “Nishikado não parecia muito contente com a impossibilidade de partilhar a bonança de Space Invaders… ‘Não recebi nenhum royalty por S. I. ou seus produtos’, ele explica, ‘O dinheiro foi todo para a Taito’”. De fato, o game rendeu tanto à empresa e seus parceiros comerciais que, segundo consta, a Atari pagou um valor astronômico para fazer o porte do game para o 2600 e ainda pode se dar ao luxo de realizar o 1º grande torneio de vídeo game do mundo. É também Bill Game Doctor’ Kunkel quem apresenta essa história: “… Eu cobri as finais no nordeste do país que aconteceram no magnífico Citycorp Centre no East Side de Manhattan. Quando eu saí do metrô, fiquei impressionado ao ver uma enorme fila de participantes se estendendo para fora do prédio”.

 

videoGamesO mais interessante na aquisição de Space Invaders para o 2600 é que o mercado já estava saturado de cópias e clones do jogo, mas a empresa queria associar seu console ao sucesso imbatível do nome Space Invaders. A estratégia deu certo e levou o aparelho a tornar-se campeão de vendas, frente a equipamentos mais robustos, como o concorrente Coleco Vision.

Space-InvadersO site de games The Dot Eaters informa outros detalhes sobre o sucesso do porte para o 2600: “Em 1980 a Atari se torna a primeira companhia de vídeo games a licenciar um jogo de arcade. Foi o executivo Manny Gerard quem considerou o enorme potencial do mega ‘hit’ Space Invaders […] Ele convenceu o chefão da Warner, Ray Kassar […] e Space Invaders se tornou ‘O’ programa para o VCS [isto é, um ‘killer app’, como se designam os aplicativos que determinam o sucesso de um equipamento específico]. As pessoas corriam para comprar o sistema só para jogar o game”.

Das muitas cópias que surgiram desde a criação do original, Nishikado comenta, com muito bom humor, qual a sua preferida: “De todas as imitações de Space Invaders, Galaxian foi a que mais me impressionou. As cores eram maravilhosas”. 

A Taito comemorou em meados de 2013 os 35 anos de presença marcante do game na cultura contemporânea, há uma série de atividades e homenagens aos invasores e seu criador, incluindo um site especialmente criado para o acontecimento e ações de merchandise no mínimo inusitadas, como um jogo do invasores com a personagem Hello Kitty.

Certamente há muito a comemorar. Space Invaders é reconhecidamente um dos games mais inovadores para a época de seu lançamento e tornou-se referência para a o aprimoramento da insurgente indústria de arcades e consoles caseiros. O site IGN incluiu o projeto entre os 10 jogos mais influentes de todos os tempos e autores são unânimes em declarar as qualidades singulares da criação. Bill Loguidice e Matt Barton, no livro Vintage Games, afirmam que “a cultura pop do final da década de 1970 era perfeita para um jogo como Space Invaders, que combinava temas de ficção científica com um nível de tensão e ansiedade comparável aos inovadores thrillers da era [como Tubarão e Contatos Imediatos]”, daí seu estrondoso sucesso. Em The Ultimate History of Video Games, Steven Kent afirma que o game “foi um sucesso tão estrondoso no Japão que muitas quitandas e outras pequenas lojas estavam se livrando de seus legumes para dedicar a loja inteira para as máquinas de Space Invaders”.

Abaixo, algumas imagens das artes originais dos personagens. Outras imagens estão disponíveis no artigo da Computer and Videogames.

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invaders_s Este artigo é uma atualização do texto original criado para o blog RetroGamesBrasil, em 2008

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