Com 16 anos e sem experiência anterior jovem produz indie game sobre ética e escolhas

Fã de games como a grande maioria dos jovens dessa geração, Henrique Germano decidiu que era hora de transformar essa paixão em atitude e, junto com o parceiro de programação, desenvolveu o projeto The Heart Beyond Darkness no curto período de uma semana, durante uma Game Jam. O jogo tornou-se o primeiro título do estúdio Indie Cake, que já conta com outro lançamento, apresentado esta semana, o Aliens Taste My Sword.

Para conhecer as motivações e pretensões do jovem designer, o Play’n’Biz procurou Henrique Germano para uma boa conversa via email, em que o desenvolvedor novato de São Bernardo do Campo, São Paulo, fala dessa nova perspectiva de vida.

Play’n’Biz – Há muita gente que nunca arriscou produzir seu projeto indie. Como foi criar o próprio game em uma semana?

Henrique Germano

Henrique Germano

Henrique Germano – Estávamos participando de uma Jam Alemã chamada Monster Mash cujo o objetivo era fazer um jogo em apenas uma semana, infelizmente não terminamos o joguinho a tempo, porém foi um aprendizado enorme e uma felicidade imensa de criar nosso primeiro jogo.

P’n’B – Fale da ideia do jogo e do processo de trabalho.
HG – A ideia veio de tentar passar uma mensagem bonita a todas as idades. O foco da história é perguntar se nascemos com a maldade dependendo da nossa origem ou se com o tempo podemos mudar essa situação.

P’n’B – Qual a tecnologia utilizada para fazer o jogo? Qual o motivo dessa escolha: por ser uma ferramenta robusta, ou por ser uma ferramenta rápida de alcançar o resultado desejado?
HG – Usamos a engine Unity pois percebemos todas as vantagens com esse novo suporte ao 2D. E é Incrível com ela te dá possibilidades e ao mesmo tempo sendo simples e prática de se trabalhar. Toda a arte e efeitos visuais fizemos no Photoshop Cs6.

P’n’B – O trabalho foi realizado todo por você?
HG – Felizmente não estou sozinho nessa jornada, tenho um grande parceiro que me ajuda na programação, e sempre irei usar aquela clássica citação: “Duas cabeças trabalham melhor do que uma”. A comunidade de desenvolvedores e apreciadores desse nicho independente brasileiro só vem crescendo ao passar do tempo, vem sendo incrível como a gente vai se ajudando e até criando novas equipes para futuros jogos.

The Heart Beyond Darkness - Process - Henrique GermanoP’n’B – O jogo é longo? Em quanto tempo um gamer mediano finalizaria o game? Como foi desenvolver as mecânicas e desafios oferecidos ao jogador?
HG – O jogo é bem curtinho e qualquer um consegue terminar em menos de 12 minutos, porém a intenção foi essa mesmo, tentar criar aquele pequeno jogo que conta uma mensagem bonita. As mecânicas foram criadas a partir das características do personagem principal, que seria um lacaio das sombras tentando se desviar dos raios de luz da floresta.

P’n’B – O game tem um clima mais soturno do que a média das produções independentes realizadas em tão pouco tempo. De onde surgiu a inspiração para essa concepção de estética ou ambientação?
HG – Tudo surgiu de criar uma floresta escura para o personagem principal não poder se machucar com os raios de luz. Com uma certa inspiração em ”chápeuzinho vermelho” e a floresta que a menina percorre.

P’n’B – Fale sobre a história do game. Há uma narrativa? Que desafios esperam o jogador ao longo da jornada?
HG – A história conta a jornada de um lacaio que foi mandado pelo mestre das trevas a procurar e matar uma garota que mora no meio da floresta. A narrativa é uma das partes mais importantes do jogo e acontece dentro da mente do protagonista, questionando a si mesmo sobre o que é certo ou errado, levando o jogador a dois finais diferentes. Os desafios vêm da hora certa de pular em cada plataforma, dependo da posição da luz.

P’n’B – Você diria que há princípios éticos a serem pesados pelo jogador nas escolhas que fará durante a imersão no jogo?
HG – Digamos que sim e não, pois o jogo te guia a fazer a coisa certa pelos questionamentos que o personagem principal faz a si mesmo. Mas sempre dou essa opção para você ser o vilão nesse pequeno contexto.

1o Indie Game de Henrique Germano - OptionsP’n’B – Há algum tipo de pensamento pessoal ou mensagem que você tenha considerado importante de passar para os jogadores como resultado dessa vivência lúdico-filosófica no jogo?
HG – Sim, “não importa de onde você veio, de como viveu ou com que viveu, você sempre terá a chance de ser uma pessoa boa e ninguém vai te julgar por isso.”

P’n’B – O aprendizado dos recursos hoje disponíveis facilitou a criação de jogos indies nos últimos anos? O que é preciso para esse cenário melhorar, em sua opinião?
HG – Com certeza absoluta, com o passar do tempo nossas mídias digitais vêm cada vez nos dando mais suporte para pessoas ‘do zero’ começarem a conhecer mais e mais sobre essa indústria e quem sabe tentar a sorte. Um exemplo pessoal: sem nenhum curso ou especialização tento criar meus jogos por hobby e diversão.  O caminho dessas informações e suporte está cada vez aumentando mais e ficando melhor, mas no meu ponto de vista, o maior inimigo desse mercado é o pouco conhecimento de pessoas leigas e o preconceito trabalhista ao redor dessa área.

P’n’B – Você acha que existe um mercado sólido para games nacionais no Brasil? Dá para produzir e ganhar dinheiro com isso por aqui?
HG – Nem um pouco. São muito poucas as equipes que se sustentam apenas fazendo jogos, a maioria tem um trabalho separado e tenta transformar o desenvolvimento de jogos em hobby ou até como um segundo trabalho. A melhor forma de ganhar algum dinheiro é desenvolver o seu jogo focando o público internacional e não apenas o brasileiro, e com isso surgem os crowd fundings espalhados pela internet.

Aliens Taste my Swoard

Aliens Taste My Sword, o novo jogo

P’n’B – De nossa entrevista para cá, você anunciou um novo jogo. O que pode falar a respeito desse novo projeto?
HG – Anunciamos um protótipo de uma jam que participamos, onde o tema era criar um jogo em apenas 4 cores. O nome do jogo é Aliens Taste My Sword onde você é um pequeno soldado e terá que enfrentar todos os desafios de uma invasão alienígena na idade média.

P’n’B – Agora que você ‘pegou gosto’ pela criação de jogos, considera seriamente a possibilidade de empreender por esse caminho profissional? Quais serão os riscos e as batalhas a serem vencidas para conseguir sucesso na área?
HG – Eu amo fazer jogos e é certo que vou seguir esse caminho, porém não quero ficar focado totalmente em desenvolver jogos, vou abranger todas as possibilidades que essa profissão me oferece e assim, de passo em passo, conseguir conquistar um portfólio sólido. Acho que um dos maiores desafios é fazer com que o meu portfólio fique reconhecido internacionalmente.

P’n’B – você diria que, assim como você, outras pessoas e jovens também deveriam arriscar criar suas produções pessoais de games? Qual seria a sua dica para eles?
HG – Eu diria que todos os jovens que querem ingressar nesse mercado terão que procurar saber mais sobre ele. Sites, Engines, Tutoriais, fóruns e contatos são as melhores formas de aprender e começar a fazer parte dessa comunidade. Após todo esse estudo e pesquisa, vale muito a pena começar algum joguinho, por mais pequeno que ele seja,pois ele é uma aplicação de tudo que você já aprendeu e já começa a formar seu portfólio.

O game está disponível online no site Gamejolt, e você pode jogar clicando nesse link.

O jogo também pode ser baixado diretamente no site dos desenvolvedores, em Cakeindependent.itch.io.

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