Campanha em favor do respeito no meio gamer ganha a adesão dos desenvolvedores brasileiros

Depois que o fenômeno Gamer Gate expôs o delicado sistema nevrálgico das relações profissionais e institucionais entre empresas, desenvolvedores e mídia, elevando o nível de intolerância e, em alguns casos, ódio explícito entre o ambiente produtor, jornalistas e público, uma nova etapa do tema adentrou na situação, tentando contemporizar a questão e resgatar o entendimento entre os vários núcleos da contenda pública.

Andreas Zecher

Andreas Zecher

Andreas Zecher, desenvolvedor do estúdio independente Spaces of Play, sediado em Berlim, é um dos responsáveis por tais iniciativas, tendo apresentado uma Carta Aberta há cerca de dois meses, onde destacava a importância de pacificação entre os entusiastas da linguagem dos games, com ponderações que atestavam que “todos, independente de gênero, orientação sexual, etnia, religião ou algum nível de incapacidade, têm o direito de jogar, criticar e fazer games, sem assédios ou ameaças”. Após o apoio de mais de 2.500 desenvolvedores que assinaram publicamente a carta, Zecher veio com nova campanha, denominada “We think Games are for everyone“, que reforça as ideias apresentadas no documento criado e propõe ativismo a todos que acreditam que o universo dos games possa ser um ponto de encontro e respeito coletivo. Simples em sua forma de realização, a ideia sugere a adoção da imagem de um coração estilizado nas cores vermelho e azul como a figura de um avatar em quaisquer redes sociais que o internauta participe, como forma de explicitar a concordância com a diversidade de ideias e posturas.

No site http://weheart.github.io, o desenvolvedor indie afirma que “nós queremos que jogos sejam um espaço onde todos se sintam bem-vindos; achamos que o pensamento crítico para os jogos deve ser aplaudido; queremos jogar todos os tipos de jogos, feitos por todos os tipos de pessoas; entendemos que os jogos são para todos”.

A iniciativa vem ganhando adeptos por toda parte e, no Brasil, transformou-se ao longo da última semana em um fenômeno viral entre os desenvolvedores independentes, com a alteração de dezenas de fotos do perfis nas redes sociais, que passam a ostentar a imagem do coração. O site da campanha sugere ainda a utilização do coração na arte de abertura de jogos criados, em trailers de projetos pessoais ou nos blogs e sites particulares e profissionais.

Entre os profissionais brasileiros que apoiam a ideia e converteram suas imagens em avatares da campanha, estão realizadores como Renato Degiovani, decano da produção nacional de games e responsável pelo Tilt Online, site dedicado a suas criações digitais, Orlando Foseca Jr, do estúdio gaúcho Imgnation, Raul Tabajara, da Carranca Games, Thiago Adamo, mais conhecido como o compositor PXL DJ e Erick Passos, Doutor em Ciências da Computação e Fundador/Diretor-Chefe de Tecnologia da Sertão Games, em Teresina (PI), além de dezenas de profissionais independentes e produtores nacionais de grande porte. Para Erick, desenvolvedor reconhecido pela realização do game Cangaço, campanhas como essa, não são capazes de solucionar o problema isoladamente, mas “criam um marco para que possamos discutir um tema específico, além de dar uma visão normalmente sensata sobre as coisas”, esclareceu em bate papo através da rede digital.
“Nesse caso, acho que é emblemático”, continuou. “Jogos como mídia, cultura, indústria ou arte precisam sair desse estado ainda meio ‘infantil’ em que as pessoas discutem como se um fosse ganhar do outro o trono de paladino da verdade”.

Raul Tabajara, Orlando Fonseca, Thiago Adamo, Renato Degiovani e Erick Passos: Apoio à campanha

Raul Tabajara, Orlando Fonseca, Thiago Adamo, Renato Degiovani e Erick Passos: Apoio à campanha

De fato, é somente por meio da aceitação da diversidade e do respeito mútuo que conseguiremos consolidar a ideia de uma cultura de games, capaz de fortalecer a produção nacional e construir uma sólida identidade para a linguagem, aproximando-a de outras expressões da cultura, como a dança ou a literatura, longe dos preconceitos ainda existentes, a exemplo das já famosas declarações da ex-ministra Marta Suplicy, para quem Games não se configuravam como projeto cultural para a humanidade.

O site do projeto “We think Games are for everyone” apresenta informações detalhadas para participar da campanha e converter o ícone desenvolvido em avatar para suas redes sociais. Na carta aberta redigida em setembro, Zecher explicita porque a intolerância deve ser combatida com veemência por aqueles que desejam um ambiente mais saudável para a produção, pesquisa e usufruto de games: “É a diversidade de nossa comunidade, que permite o florescimento dos jogos. Se você vir ameaças de violência ou dano em comentários no Steam, YouTube, Twitch, Twitter, Facebook ou reddit, por favor, dedique alguns minutos para relatá-los nos respectivos sites. Se você presenciar algum discurso odioso ou ofensivo, tenha uma posição pública contrária a isso e faça da comunidade gamer um espaço mais agradável de participar.”

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