Nolan Bushnell, o empreendedor: após o ocaso, a sobrevivência – Parte II

Como visto na primeira parte do artigo sobre o inquieto empreendedor Nolan Bushnell, seus problemas com os investidores e as investidas no campo da robótica não poderiam ter resultado mais catastrófico naquele momento, e sua vida não seria fácil a partir dali. Bushnell, no entanto, parece nunca se dobrar aos reveses da vida, como veremos nesta continuação de sua história.

Após a estratégica retirada da Merryl Linch, no aporte à Androbot, os problemas de Bushnell se somariam. Em 84, o Pizza Time Teather faliu e ele acumulou US$ 22 milhões em dívidas, na tentativa de continuar financiando a Androbot.
Este problema com o grupo de investidores se estenderia pelos 15 anos seguintes e levaria a fortuna e todos os demais negócios de Bushnell para o ralo. Lamentavelmente, o robô Andy jamais seria comercializado.
Em 1990, Bushnell já havia pago US$ 27,5 milhões da dívida original mais os juros do período. Ele e a investidora acertaram o pagamento de um valor final de 500 mil dólares em junho de 95, para quitar a dívida.

24768_017Por volta desta época sua nova empresa de entretenimento familiar E2000 já angariava US$ 2,5 milhões em investimentos. Curiosamente, cinco meses antes de vencer o prazo combinado, a Merryl entrou com um processo contra Nolan Bushnell no Supremo Tribunal de Santa Clara exigindo um pagamento de US$ 3,5 milhões.
Mais tarde, a empresa reconheceria o seu erro, mas o estrago já estava feito: os investidores da E2000 retiraram seu dinheiro, temerosos de perdê-lo e Bushnell ficou, mais uma vez, sozinho de calças arriadas.

Quando a data do pagamento chegou ele não conseguiu honrar o compromisso e a dívida subiu para astronômicos US$ 6,1 milhões. Há um comentário de Bill Hardin, porta-voz da Merryl Linch, que mostra a forma como os tubarões do capital norte-americano são absolutamente insensíveis ante a perspectiva de destruir vidas e famílias: “Entramos em várias negociações para cobrar o dinheiro do Sr. Bushnell e, em mais de uma vez, reestruturamos os acordos. Por fim, quando ele não conseguiu saldar suas obrigações, tomamos as medidas legais apropriadas para proteger nossa companhia e seus parceiros.” (Bushnell deve ter rolado de rir com o tombo que a Merryl Linch levou com a crise das Sub-Primes, em 2008).

Para tornar curta esta longa história, vale dizer que a financeira usou, segundo informações veiculadas na mídia e no mercado, alguns artifícios  no mínimo questionáveis na caça ao já minguado tesouro engendrada, tentando congelar os poucos bens de Nancy, a esposa de Bushnell, tomar o restaurante “Lion & Compass”, pertencente a seu sogro e impedindo a vendas de imóveis, requerendo-os para si. Muitos consideram que as coisas teriam sido muito mais fáceis para o empresário se ele declarasse falência. Mas é George Huff, um amigo da família quem comenta o comportamento turrão do empreendedor: “Nolan é um sujeito à moda antiga. Às vezes a bancarrota pode ser uma ótima opção para os negócios, mas ele jamais aceitaria isso”.

Depois de perder seus negócios, seus imóveis e talvez mutas noite de sono, era de se esperar que o não tão jovem engeneheiro desejasse apenas uma aposentadoria sem surpresas, correto? Bushnell não parou e iniciou o projeto Uwink (http://uwink.com/), um conceito bastante interessante em termos de casa de lanches rápidos, ainda que não totalmente inovador, denominado por ele como “Media Bistrô”. A idéia dessa vez não é focar nas crianças, como a rede Chuck E. Cheese, mas nos adultos solteiros, que encontram no restaurante um ambiente descontraído, com jogos eletrônicos casuais projetados na própria mesa de refeições.

Focado no jogo como um elemento de integração social, o irrequieto Bushnell comentou em uma entrevista (http://electronicdesign.com/Articles/Index.cfm?AD=1&ArticleID=17133): “Games sociais são uma coisa que anda em falta hoje em dia… Você não vê papai, mamãe, irmão e irmã jogando Banco Imobiliário como antigamente. É esse mundo de jogos que pode ser reenergizado.”
Em outra entrevista, concedida à revista Wired em outubro de 2005, o homem completava seu raciocínio: “Estou interessado em trazer [os games] de volta ao seu papel de facilitadores sociais, da forma como as brincadeiras ajudavam as pessoas a interagirem nas festas.”

Seu pensamento parece estar alinhado com os tempos atuais. A Casual Games Association (http://blog.playyoo.com/tags/casual-games/) publicou em 2009 um estudo que projeta que a indústria de jogos casuais movimentou no final da década passada aproximadamente US$ 2,25 bilhões e que tanto homens quanto mulheres jogam em proporções  similares. Há também outros estudos que confirmam essas indicações.

O investidor Chris Fernandez publicou sua opinião sobre o negócio em agosto de 2009 (http://seekingalpha.com/article/92102-it-s-a-good-thing-uwink-isn-t-a-restaurant-company?source=feed) e afirmou que, embora o empreendimento não pareça ter decolado, os parceiros do projeto não deveriam desanimar. Na sua opinião, os investidores deveriam mudar a maneira como pensam sobre o uWink e afirmou: “Você precisa olhar para o uWink não como uma companhia de restaurantes, embora é o que ela seja no momento, mas como uma companhia de software [para licenciamento], que é o que ela pretende ser”. Bushnell conseguiu manter o empreendimento por algum tempo no mercado, mas a recessão global e os hábitos dos novos tempos devem ter minado as oportunidades do projeto. Segundo informações da Nasdaq, em 2012, as ações da empresa estavam cotadas a menos de um centavo de dólar.

Hoje, Bushnell parece voltar seu arsenal para uma nova revolução com games, desta vez no campo da educação. Em 2012, o empresário esteve no Brasil para participar da Campus Party, e afirmou que os games fariam os jovens aprenderem dez vezes mais rápido que as gerações anteriores.

Talvez ele não revolucione o comportamento de uma sociedade como já fez uma vez ao criar um novo mercado com uma nova tecnologia de entretenimento, mas sua história de persistência e sagacidade merece uma chance no pódio dos vencedores.

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