Especialistas apostam que a Realidade Virtual é a nova próxima onda do mercado de games e, a julgar pela iniciativa da Samsung, com a criação do Gear VR, em parceria com o Oculus Rift, o segmento deve explodir em breve, também para o mercado mobile. O Estúdio Imagnation, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, está nesse jogo e arrisca suas fichas nesse campo de ação. O primeiro projeto para a plataforma é o Dodge This, criado originalmente para iOS.

O Diretor Criativo da Imgnation Orlando Fonseca Jr conversou com o Play’n’Biz em um dos dias da Brasil Game Show (entrando furtivamente na área Business, que impedia acesso de profissionais sem o cartão VIP do evento) e apresentou em primeira mão o protótipo do Gear VR (que não pode ser fotografado em virtude de sigilo contratual) e mostrou o jogo Dodge This, que está sendo adaptado para a nova plataforma.

O Imgnation iniciou as atividades em 2007, como um estúdio de concept art e design, como relatou Orlando, e hoje está encubado na Universidade Federal de Santa Maria, transformando-se em uma empresa produtora de jogos e aplicativos em 2010. Dodge This foi lançado em setembro de 2012, ano e que a produtora resolveu dedicar-se maciçamente aos games, a partir de uma parceria com Chillingo, publicadora inglesa de games para mobile responsável pelo lançamento do grande sucesso Angry Birds. “Naquele ano”, iniciou Orlando, “eles nos procuraram perguntado se a gente não queria participar de um projeto secreto da Samsung com o Oculus. Na mesma hora a gente aceitou”.

“A gente já vinha trabalhando com a Chillingo e, em abril daquele ano, eles apareceram com a proposta, falando ‘Olha, a gente tem esse projeto aqui de Realidade Virtual, vocês querem trabalhar?’ – ‘Queremos’, foi nossa resposta imediata”, afirmou, entre risos. “Quando a gente assinou o contrato foi só então que a gente descobriu que era uma parceria do Oculus [Rift] com a Samsung”, contou, dando mais detalhes sobre o processo de criação para o novo aparelho: “Começamos a trabalhar em maio desse ano no projeto com o Oculus. O produto acaba de ser oficializado pela Samsung como Gear VR e trata-se de um óculos virtual de uma parceria da Oculus Rift com a empresa, que usa a tela e o processador do próprio telefone, então é como se fosse o Oculus, que ao invés de estar ligado no PC, você encaixa o telefone nele. O aparelho será lançado inicialmente somente para o Galaxy Note 4, o mais novo aparelho da Samsung, e depois, acredito, para outros mobiles”, acrescentou, durante a entrevista.

Orlando comentou que são vários estúdios que estão desenvolvendo nesse momento trabalhos de games para o projeto, previsto para ser lançado até o final do ano nos Estados Unidos. “Ainda não existe uma data definitiva para o lançamento do projeto e dos jogos, mas é ainda esse ano”, confirmou.

Como já foi dito, o jogo já foi lançado inicialmente para iOS, em iPad e iPhone. “A ideia do jogo surgiu lá por 2012, quando a gente estava em um brainstorm na empresa e um dos caras falou: ‘Porque a gente não faz um jogo que é a Ponte do Rio que Cai’, mas tu é o canhoneiro?’. Aí, a gente começou a ‘viajar um monte’ em cima daquela ideia, trazendo muitas referências, como Looney Tunes, cartoons engraçados antigos com bigornas que caem do céu, bengalinhas de borracha que explodem, vários tipos de canhões diferentes e outras coisas”, descrevia, animado.

“A gente descobriu que o quadro [do programa] do Faustão era baseado em um programa japonês chamado Takeshi’s Castle e a gente foi procurar descobrir o que eles faziam lá no Japão, usando tudo como referência básica”, afirmou, para explicar a forma como o jogo foi concebido e desenvolvido pelo estúdio. “Depois, a gente acrescentou temas como Piratas, Medieval e outras ideias”.

Sobre o processo de conversão do game para o sistema de Realidade Virtual, Orlando afirmou que não chega a ser um trabalho complicado, mas que exige atenção a uma séria de determinações do recursos, para permitir navegação fluída no ambiente virtual dos jogos. “Desde maio, a gente está trabalhando a adaptação do jogo para conteúdo de Realidade Virtual. Há toda uma série de regras de como tu transformar um jogo para a Realidade Virtual, o que precisa ficar no foco, que tipo de angulação tu podes fazer, todos os detalhes que uma tela convencional não precisa, mas quando tu tá em um ambiente imerso em 360º tu tens que procurar levar em conta”, elucidou.

O jogo, que já tem versão para Android na gaveta há alguns meses, precisou da chegada do projeto da Samsung para ganhar força e transformar-se em produto, como conta o produtor. “A gente já tem o jogo pronto para Android, mas foi uma decisão da publisher de segurar o jogo e, nesse meio tempo, apareceu o projeto com o Gear, que acabou ajudando, porque a gente estava insistindo para sair”, confirmou Orlando, observando que, mesmo assim, o projeto não estará presente no Google Play. “Mesmo sendo feito em Android, o jogo vai ser lançado só na loja de Realidade Virtual da Samsung, que deve estrear no final do ano, antes do Natal”, acredita.

Falando um pouco mais sobre o processo de criação do game, Orlando contou sobre as decisões do grupo de desenvolvedores na elaboração das ideias e como criar um projeto criativo, dinâmica e estimulante para o público: “A gente teve muito conteúdo. No documento original do jogo a gente tinha muitos Power Ups e muita coisa mesmo”, detalhou, informando que, para conceituar o projeto, criaram uma lista de possibilidades de elementos para o game. “Mas tínhamos noção de que aquilo tudo não iria para o produto final. Quando a gente conseguiu determinar que o Level Design ia ser simples, focado e com elementos de Tower Defense, começamos a colocar quais inimigos iríamos ter, fazer testes, estabelecer o limite do jogo, afinal, a gente não podia ficar trabalhando pra sempre, implementando todas as ideias mirabolantes que a gente tinha, senão nunca ia lançar o produto, né? (risos) O importante é pensar o que é essencial e o que é perfumaria pro jogo”.

O designer explicou ainda como se dá a relação com as empresas desenvolvedoras do novo recurso: “O nosso contato acaba sendo muito maior com o pessoal do Oculus do que com a Samsung, que nos fornece todo o hardware para os testes. Mas todas as questões técnicas, software, os plugins que a gente tem que adaptar para os assets que a gente usa, é tudo com o Oculus, que é quem está cuidando do conteúdo do produto”, esclareceu.

Para o futuro, a Imgnation vê o mercado de games de Realidade Virtual como um campo seguro e amplo em possibilidades para novos projetos. “A gente pretende investir na realidade virtual agora. Tivemos essa oportunidade de ouro de ser a primeira empresa trabalhando com o óculos da Samsung nesse projeto, então a gente já está na frente em termos de know how à frente do pessoal que está trabalhando com o Oculus Rift, na verdade, porque a gente já está diretamente envolvido com eles, tem acesso a fóruns privados e tudo mais”, destacou, sem esconder o entusiasmo com o futuro. “Esse ano a gente aprendeu [‘de verdade’, enfatizava o gestual do designer] a trabalhar com Realidade Virtual e pretendemos continuar trabalhando com isso, pois mudamos muito o foco de mobile para seguir nesse mercado”, defendeu, durante a conversa, explicando que há outros recursos a caminho, que podem ampliar o leque de produções para o meio. “Temos muita vontade de trabalhar com a Sony, que também vai lançar em breve um programa de Realidade Virtual para o Playstation 4, a gente teve essa oportunidade única de se destacar com alguma coisa e vamos manter esse caminho”.

O jogo Dodge This pode ser encontrado, até o momento, somente na App Store da Apple, pelo link https://itunes.apple.com/us/app/id638161211?siteID=ikosg7qZsGQ&partnerId=45